Capítulo 19
Ficamos em silêncio durante um tempo. Ainda não era muito natural ficar sozinho com ela, mesmo que tenhamos vivido na mesma casa desde que ela chegou.
“Então… Esses sanduíches tão muito bons.”
“Obrigada. Eu fiz cada um com um recheio diferente. Não tinha certeza se ia ficar bom.”
O céu estava ficando alaranjado, então eu não tinha certeza se ela estava ficando vermelha. Mas sempre parece que ela é mais meiga quando estamos sozinhos.
O Sol estava baixando e se misturando com as nuvens de um jeito muito bonito. Parecia fantasia, foto ou filme. Sei lá.
Nessa posição a luz só esquentava a frente do meu corpo e eu comecei a sentir frio nas costas.
Zea teve um calafrio. Por instinto eu me aproximei pra aquecê-la ou abraçá-la. Então parei.
O que eu tô pensando?! Ela pode me bater se eu fizer alguma coisa estranha. Droga! Agora que eu me mexi tenho que fazer alguma coisa.
“Meu pai sempre me dizia que quando o Sol ia se deitar e a Lua aparecia, o Sol levava a realidade e a Lua trazia seus sonhos. Então, se eu conseguisse estar do lado de uma moça desde que o Sol se põe até ele acordar, os sonhos que a moça e eu sonharmos juntos se tornariam realidade.”
Minha respiração estava plana. As histórias do meu pai sempre me acalmam. Acho que despistei o movimento.
“Sei que é uma história besta. Acho que ele só contava porque isso fazia minha mãe feliz. Acho até que foi ele quem inventou. Hehe…”
Ela olhou pra mim e, por um instante, eu vi mais força dentro daqueles olhos do que a garota envergonhada que estava se mostrando antes. Então, um vento soprou nas nossas costas. Ela se arrepiou. Rápido ela se aproximou e abrigou as costas com meu braço.
Mas ela era uma garota apesar de tudo.
“Não, não acho uma história besta. É muito bonita.” Ela sorriu e encostou a cabeça no meu ombro.
Ali, do lado dela, vendo o Sol se pôr, eu entendi o que meu pai quis dizer. Eu tinha que protegê-la da noite. Talvez ela seja mais forte que eu, mas eu sei que vou lutar o quanto for preciso pra mantê-la a salvo.
“Ohh… Isso é mesmo lindo!” Uma voz áspera atrás de mim.
PÁÁH!
Alguma coisa acertou minha nuca com uma força absurda.
Meu corpo ficou sem peso por alguns segundos. Minha mente estava apagando.
“Wiiiillllll!!”
Acho que essa é a voz de Zea.
SPLASH!
Meu corpo bateu no lago. A sensação da água na pele ainda é estranha. Ou eu só não estou sentindo nada direito?
“WWWIIIIILLLLL!!!”
Era Zea. Ela parece desesperada. Tenho que voltar pra ela. Meu corpo não mexe. Não obedece.
“Ele morreu! Ele é humano e fraco! Se fosse digno do meu desafio não cairia tão facilmente.”
“Seu bastardo! Eu vou te fazer sentir a pior das dores!”
Então é isso. Eu morri. Mas por que ainda tô ouvindo essas coisas? Cadê a luz que eu tenho que ir?
PYUUN!
Luz vermelha? Eu tô indo pro inferno? Mas eu sou virgem!! Não fiz nada de errado eu prometo!
“Muaaahaahaaahh! Esse raio não vai funcionar outra vez, gatinha. Hehehe! E agora você vem comigo. Eu vou te fazer o banquete dessa noite! Haahaahaa! Você me deu vários problemas! Agora eu vou ser o seu.”
Gritos. Choro. Explosões. Meu nome…
Eu apaguei. De novo…
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