Capítulo 12
Ahh! Tem uma tempestade acontecendo na minha mesa de jantar!!
Não interessa o quanto eu entenda como funciona, isso sempre vai parecer mágica!
Quanto mais os estalos de eletricidade aumentam, mais o tornado se concentra. Em alguns segundos, ele fica com menos de trinta centímetros. Um pouco mais de tempo e ele fica parecido com uma esfera verde-musgo bem escura, do tamanho de uma bola de beisebol.
O ar em volta da mesa fica com um cheiro terrível de ozônio, e minha boca fica com um gosto metálico.
A esfera para no ar um instante e cai. PAC!
Nenhum som além estalos eventuais.
Então. BLIZZZZZZZZZ! Dezenas ou centenas de mini relâmpagos acertam a esfera. Ela começa a girar em altíssima velocidade e toma a forma de um tornado líquido. Sua forma vai mudando até que já não é mais igual em todos os lados. Uma forma mini humanoide começa a aparecer no lugar do tornado. Antes que eu percebesse, aparecem vários braços com dedos longos como pinças, pernas um pouco longas demais para o tronco, com dois joelhos em cada perna, cada um virado pra um lado, dava um sensação nauseante de que aquilo era bem errado. A cabeça parecia humana, mas os olhos eram grandes demais e uma boca sem lábios, somente uma linha fina identificava o local.
Parecia muito um inseto do tamanho da minha mão.
Uma luz em volta daquilo e sem som nenhum, ele estava colorido.
A sala estava cheirando a madeira queimada e minha mesa tinha uma mancha preta perto da geladeirinha.
Ele olhou em volta dele, mas não pareceu se importar muito por ter aparecido do meio de um tornado.
“Estavam jantando, eu vejo. Eu estava me perguntando o que estariam fazendo os guardiões deste planeta enquanto tem um astrolático sociopata assassino andando livremente pela minha região. E jantando é a resposta…”
As roupas dele são bem estranhas mas parecem muito com roupas dos séculos passados e uma capa nas costas. Bem menos espacial do que eu imaginei… Apesar de parecer um inseto e se vestir assim, ele era quase normal.
Ele olhou de Zea pra Jan e depois parou em mim.
“Esse é o garoto do relatório, ahn? Ele não parece alguém capaz de trocar socos com Grort.” Ele fez uma cara de desgosto e continuou com sua voz metálica. “Bem, desabilitem a parte da memória dele que tem vocês e Grort e deixem-no viver normalmente.”
Talvez porque eu ainda estava fascinado com o homenzinho bizarro que estava em pé na minha mesa, ou por causa do choque, mas eu demorei um pouco pra entender o que ele tinha dito.
AAAAAAHHHHNNNN?! Desabilitar minha memória?
“EI! EI! EI! Ninguém vai desabilitar nada na minha cabeça, beleza?!!”
A cara de inseto ficou ainda pior e desgosto encheu a linha que era sua boca.
“Como ele consegue me entender, Jan?”
“Eu coloquei o tradutor na cabeça dele enquanto eu o consertava.” Jan respondeu sem levantar os olhos de suas mãos.
“Pois retire assim que desabilitar a memória dele.”
“Já falei que ninguém vai mexer na minha cabeça! E que tradutor você pôs em mim?!!” Eu gritei.
Ninguém nem olhou pra mim quando eu gritei. Que costume chato essas pessoas têm!! GRRRRHH! Minha nuca começou a coçar muito agora. Acho que saber que tem um aparelho na minha cabeça não me fez bem.
“Szeics, nós já conversamos com ele e ele entende, é mais fácil lidar com ele assim.” Zea responde com o rosto tenso.
“A Terra ainda não faz parte da Aliança e não é seguro que alguém saiba de nós antes de decidirmos lidar com eles. É um planeta agressivo e vão matar tudo o que chegar perto deles se não for feito da forma certa. É melhor pra ele mesmo que não saiba de nada, assim, não procura problema.”
Apesar de estar dizendo coisas que deveriam ser pro meu bem, sua expressão de desgosto nunca saiu do seu rosto.
A expressão de Zea piorou. Ela estava ficando triste de verdade.
MALDITO! INSETO MALDITO!
“Mas Grort o desafiou. Ele vai matá-lo assim que tiver a chance. Ele não pode simplesmente andar por aí sem proteção.” Jan tenta mais um pouco.
“Mas é pra isso que vocês servem, não é? Protegê-lo sem que ele saiba? Seu trabalho é lidar com isso. Não se envolvam emocionalmente.”
Jan fica com uma expressão complicada e talvez… um pouco… triste.
Algo dentro de mim não parece normal. Eu odeio ver essa expressão no rosto de Zea e nem mesmo Jan deveria ter essa expressão no rosto. Ele é um desses caras de sorriso-certo, sempre feliz e nunca fica preocupado.
Desgraçado!
Eu me levanto e vou em direção a porta enquanto o homenzinho continua falando.
“E se vocês o usarem de isca pode ser mais fácil atrair Grort. Ele é a maior ameaça pra Terra e vários outros planetas no momento. Capturem-no e talvez até mesmo recebam uma promoção.”
Na voz dele não tinha só desgosto por mim. Aquilo era desprezo. Por mim, minha raça e pela Terra.
Eu vou matar essa barata se ela disser mais alguma coisa!
Peguei a bota de Zea que estava na porta.
A fúria dentro me mim corria pela minha pele e chegava a doer. Nem parecia um sentimento meu.
“Ele pode morrer se fizermos isso.” Zea disse exasperada.
“Ele é só um. Na Terra tem bilhões deles. Se esse for o sacrifício que teremos que fazer pra proteger esse planeta, então que seja. Eles são primitivos, ninguém vai sentir falta de…”
PAAAHHH!
Um monte de pedaços de verde-musgo voaram pela sala.
Apesar de ter aquela forma, ele foi macio de esmagar com a bota que eu estava segurando. Não tinha osso ou exoesqueleto ou qualquer coisa assim.
Meu coração estava acelerado e tinha uma mancha preta em volta de mim. Talvez eu estivesse perto de desmaiar.
“Nunca mais atendam esse cara dentro da minha casa!” Minha voz parecia dupla e monstruosa também.
Fui pro quarto e deitei.
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